12/XII - A CORTE PORTUGUESA ABRE OS OLHOS
XII
- Vejam bem: os corsários
contrabandistas, também conhecidos por brasileiros, não só influenciaram o nome
de nosso País, como também contribuíram para abrir os olhos da Coroa
Portuguesa, na conquista definitiva do Brasil.
Luísa não se contém:
- Quais foram os maiores
contrabandistas?
- Os franceses. Campeões absolutos do
tráfico de Pau-Brasil, sem a menor sombra de dúvida. Dizem que, com a ajuda dos
Tupinambás, levaram daqui mais Pau-Brasil do que os portugueses, para atender a
demanda crescente de corantes na indústria têxtil francesa.
Em 1503 o navio L´Espoir de Honfleur,
tripulado por bretões e normandos, abriu o caminho do contrabando francês de
Pau-Brasil na costa brasileira. A partir daí as visitas tornaram-se constantes,
e, com o apoio da Corte Francesa. O rei Francisco I (1515-1547), até mandou ao
rei de Portugal o seguinte recado: eu não
conheço o testamento em que meu avô Adão legara herança americana apenas aos
primos de Portugal e Espanha.
Em resposta à ousadia dessa gente, a
Corte Portuguesa intensificou o combate aos contrabandistas. Entre os vários
navios de bandeira francesa apreendidos e incendiados, destaca-se o La
Pélérine, preso pelos lusitanos no torna-viagem, carregado de centenas de toras
de Pau-Brasil, 300 macacos, 600 papagaios, 3.000 peles de onças, 300 quintais,
isto é, 1762 quilos de algodão e outros produtos.
- Os franceses eram amigos dos
índios? – quer saber Alice.
- Poucos exploradores podiam se
igualar aos franceses no conhecimento e no trato com os índios, o que
contribuía para facilitar o escambo. A maioria dos exploradores considerava os
nativos uma raça inferior e bárbara; tratava-os como escravos, como já vimos.
- Que horror?! – quase grita Maria
Vitória, ressabiada.
- Olha aí apareceu a aparecida!
- Olha aqui, Chico Decoreba, o gesso
no meu braço...
Risos e olhares para o lado do Chico.
- Ordem na assembleia, Meninos! –
pede a Professora.
Pausa com risos despistados. O
Professor conclui:
- A pirataria, meus Jovens, nas
costas brasileiras crescia dia a dia. E o Governo Português, pouco ou quase
nada fazia para combater o tráfico de Pau-Brasil.
Vitor empina a mão direita e
protesta:
- Por que aqueles portugueses não
usaram canhões para estourar os navios invasores?
- Ora, Vitor, é claro. Canhões
Portugal tinha aos montes, só que estavam ocupados em garantir as conquistas na
Ásia. Vez ou outra Portugal mandava uma expedição para vigiar as costas
brasileiras e botar os piratas a correr, digo: para nadar, com estouros de seus
pesados canhões.
Até 1531, a expedição de guarda-costas
mais importante foi a de Martim Afonso de Souza, comandante de uma frota de
cinco navios e quatrocentos homens armados até os dentes. Mal desembarca no
Porto de Piaçaguera, na altura de Pernambuco, aprisiona dois navios franceses
lotados de Pau-Brasil.
- Então Martim Afonso foi um herói na
defesa do Pau-Brasil? – entusiasma Tijuca.
- Sim, meu Jovem. A fibra, a coragem,
a decisão de Martim Afonso fez com que, durante muito tempo, navio pirata para
ancorar aqui tinha que dar sorte ou ser muito esperto. A frota do Capitão
Martim subia e descia a costa brasileira com a ordem de atirar em navios de
bandeira estrangeira, que estavam levando a madeira brasileira.
- Atirava e depois perguntava,
Professor? – brinca o Ewerton.
- A partir daí, o Pau-Brasil se torna
um monopólio da Coroa Portuguesa, ficando encarregada exclusivamente de sua
exploração e comercialização.
- Até quando exploraram o Pau-Brasil,
no Brasil? – pergunta Marise.
- Acredite se quiser: até acabar.
Derrubaram o Pau-Brasil a torto e a direito. Em pouco mais de trezentos anos o
estoque natural em nossas matas quase zerou. A ação destruidora dos europeus
foi tão violenta que a Natureza foi incapaz de se recompor. Uma devastação!
Alguns pés ainda são preservados em pequenos projetos florestais, em Jardins
Botânicos, em praças e em ruas de algumas cidades brasileiras. Ou ainda outra,
camuflada no meio de mata fechada, que escapou dos predadores ou rebrotou.
- Pau-Brasil rebrota? – pergunta
Róbson.
- Ainda bem. Mas sua muda se faz com
semente. Uma curiosidade: na Estação Ecológica Pau-Brasil, lá na Bahia, ainda
restam algumas espécimes dessa madeira do tempo de Cabral, possivelmente
árvores rebrotadas. Uma delas é chamada pelos pesquisadores de Pau-Brasil Rei,
tem dois metros e sessenta centímetros de circunferência e 40 metros de altura.
Dona Diana aproveita e cita:
- A descoberta da anilina, no
princípio do XVIII, contribuiu para diminuir o interesse pelo Pau-Brasil. Estou
certa, Professor Valverde...
- Felício Esmaragdo... Minha cara
Diana...
- Desculpe-me, Professor. Prometo me
lembrar do Esma... ra... gdo direitinho.
- Sim. O produto químico, extraído do
carvão-de-pedra, então, substituiu a tinta vegetal, por um custo menor e com
qualidade extraordinária. Tanto que, em setembro de 1826, Dom Pedro I, mandou cinquenta
quintais, isto é, três toneladas de toras de Pau-Brasil para serem leiloadas em
Londres e liquidar parte dos juros da dívida brasileira. Um fiasco. A venda não
deu para cobrir o custo de transporte, a madeira de tinta estava com a cotação
em baixa no mercado europeu, em consequência do crescimento da indústria de
anilinas.
- A dívida foi paga? – pergunta
Adauto com um sorriso torcido.
- Acredito que sim, mas não foi com o
resultado do leilão de Pau-Brasil na Bolsa de Mercadorias de Londres, claro.
Isabel levanta a mão e com ar de
mistério:
- A cidade onde moro tem ruas
plantadas com Pau-Brasil.
- Uê! Você não mora em Belo Horizonte?
- Ora, Filipe, eu não disse que não
moro aqui. É aqui mesmo que tem ruas arborizadas com Pau-Brasil.
- E onde ficam essas ruas?
- Em vários bairros. Na rua onde mora
minha Vó Filhinha mesmo tem. Na rua da Tia Ila. Da Tia Guiomar, da Tia Ida. Na
pracinha onde mora o Tio Oliveiro. Na cidade onde mora o Tio Zezé.
- Eu também sei onde tem pé dessa
árvore – ri toda orgulhosa, Ana Laura.
- Se Você sabe, então conte.
- No clube que frequento tem dezenas
de árvores de várias qualidades, quero dizer, espécies, não é assim mesmo
Professor Felício? E, no meio delas, foi plantado um pé de Pau-Brasil que meu
pai doou ao Minas Tênis para enriquecer mais ainda seu nicho ecológico, que
funciona como um oásis bem no centro da Capital.
- Parabéns para seu Clube! - festeja
Cidinha.
O Diretor dá uma risada, feliz, e
também aplaude:
- Gosto do bate-boca de vocês. É uma
ação cívica plantar nossa querida árvore em praças, jardins públicos, ruas,
clubes recreativos e principalmente, nas margens das estradas, o que daria
sombra, proteção e madeira para ser utilizada em construções públicas. Desde o
princípio do século XX a ideia era difundida pelo biólogo pernambucano,
Professor Roldão Campos, que queria ver em cada cidade brasileira pés de
Pau-Brasil preservados. Afinal, preservar a Natureza é preservar a vida, não é
mesmo?
- Siiiiimmmm – gritos todos
concordando.
Marisa logo pergunta, curiosa:
- Professor, como hoje é utilizado o
Pau-Brasil?
- A sua utilidade é muito variada,
excelente madeira para construção civil e naval. Na marcenaria fina também;
serve até para fazer arco de violino.
- Instrumento musical!... – admira
Ana Júlia.
- Sim. Beethoven, Mozart e outras
feras da música clássica eram fãs de carteirinha de arco feito de Pau-Brasil
para tocar violino. O som sai mais cristalino, vai mais longe. Curiosidade: na
cidade de Guaraná, no Estado do Espírito Santo, tem uma velha fábrica de arco
de Pau-Brasil para instrumento de corda.
- Legal!... – todos.
- Os escultores também gostam de
fazer suas peças com Pau-Brasil. A madeira bem lixadinha adquire uma textura
muito fina e delicada. Fica como bumbum de neném!
Todos riram. O professor continua
entusiasmado:
- Na medicina popular, os índios
usavam o pau-de-tinta para curar diversos males. E Maurício de Nassau foi o
primeiro homem público a recolher amostras de Pau-Brasil para estudos
científicos na Europa. No Brasil, o cientista pernambucano, José Lamarotti tem
uma longa pesquisa sobre o poder medicinal dessa planta. São infinitas as
propriedades de nossa árvore.
Dona Diana, sorridente:
- Muito bem, Professor Felício.
Adoramos sua história. Só para completar: tem gente preocupada em repovoar
nossas matas com Pau-Brasil. Entre tantos, a professora Ana Cristina, filha do
Professor Roldão, que dirige a Fundação Nacional do Pau-Brasil. Na Bahia, a
Embrapa estuda o DNA das árvores existentes na Estação Pau-Brasil. Ainda tem
gente trabalhando para devolver ao seu habitat natural uma espécie vegetal que
jamais poderia ser extinta!
- Professora Diana, quero
parabenizá-la por trazer seus alunos para conhecer a Natureza in-loco.
- In ... lo... O quê!... – estranha
Ana Laura.
- In-loco - repete a Professora. -
Isso quer dizer: estudar, observar uma árvore no local onde está plantada.
Entende?
O Professor Felício sugere:
- Cheguem todos para cá, vamos abrir
uma roda em torno deste Pau-Brasil. De mãos dadas, recitaremos um poema em sua
homenagem, como se hoje fosse o seu dia. Repitam comigo, legal?
- Siiiimmm! - todos num grito.
Meninos e meninas abrigam-se debaixo
da majestosa árvore, pisando o chão coberto de folhas secas.
O Diretor, já de pé, endireita o
colete, ajeita a calça jeans e tira do bolso uma folha de papel. Contempla por
um minuto a copa do Pau-Brasil. Depois, coloca-se no meio dos estudantes, faz
pose e com a voz cheia, também de um artista de teatro, gestos pausados, lê:
Ao Viandante
Tu que passas e ergues
para mim o teu braço,
Antes que me faças
mal, olha-me bem.
Eu sou o calor de
teu lar nas noites frias de inverno,
Eu sou a sombra
amiga que tu encontras,
quando caminhas sob
o sol de agosto.
E os meus frutos
são a frescura apetitosa,
Que te sacia a sede
nos caminhos.
Eu sou a trave
amiga de tua casa, a tábua da tua mesa,
a cama em que
descansas e o lenho de teu barco.
Eu sou o cabo de
sua enxada, a porta de tua morada,
A madeira de teu
berço e do teu próprio caixão.
Eu sou o pão da
bondade, a flor da beleza.
Tu que passas,
olha-me bem e não me faças mal.
Sem risinhos atravessados, nem
deboche, os meninos acompanharam direitinho os versos lidos.
- Esse Doutor Felício é cobra
criada... – brinca Chico.
A Professora sensibilizada:
- Que lindo, Professor! O Senhor
também é um excelente intérprete. De quem é o poema?
Felício, que ruborizara, agradece com
discreta cerimônia:
- Bondade sua. O Autor é desconhecido
– e com os dedos reverentes dobra a folha de papel. - Certa vez, visitando o
Castelo de São Jorge, em Lisboa, vi uma prancha de madeira gravada com esse
poema. Amei os versos, fotografei a tábua e hoje passo para vocês. Tenho cópias
xerocadas no escritório, que sempre distribuo aos visitantes.
- Poxa!
- Eu quero uma!
- Eu também!
- Eu também!
- Vou copiar um tantão e espalhar com
a galera do meu bairro! – insiste Ana Laura, gracejando.
- A tabuleta com os versos era de
Pau-Brasil? – provoca Chico.
- Infelizmente não. Era de Cedro.
- Legal, assim mesmo! – aplaude Paula
com um sorriso.
- Joia!
- O Professor é um barato mesmo! –
aclama Hugo, radiante.
Felício Esmaragdo Valverde sorri
amável. Curva o tronco num gesto de agradecimento, aquele gesto de artista no
palco, emocionado com os aplausos de uma grande plateia. Dona Diana aproveita a
oportunidade:
- Que ótimo que nos recebeu com tanto
carinho, tornando nosso passeio uma fonte de aprendizado e divertimento. Aprendemos
História e Ecologia e até como declamar um poema!
- Disponha. Entendo cada vez mais
porque seus alunos são tão interessados, conscientes e amigos.
Risos gerais.
- O Jardim Botânico, Dona Diana,
minhas Meninas, meus Meninos, está aberto a qualquer interessado em ter um
contato direto com a Natureza. Tenho a certeza de que os visitantes saem daqui
mais puros de alma, bem mais interessados em defender a Ecologia e muito mais
responsáveis.
Súbito, a mesma voz de um papagaio
invisível interrompe as fala e os risos:
- Ô Felício! Ô Professor! Ô
Esmaragdo! Currupaco!
Os estudantes olham uns para os
outros, ainda mais admirados e curiosos. Procuram o misterioso papagaio por
todos os lados.
- É o mesmo, Professor, o mesmo
papagaio! – afirma Robson.
- Pelo menos, a voz é igual – garante
Maria Vitória;
Nisso, uma flecha de índio, da
verdadeira, corta o ar, assobiando, numa velocidade tremenda e se finca no
chão, próximo ao pé do Diretor.
Susto geral.
- Vamos cascar fora, Pessoal! –
gritam uns.
- Essa não!!!
- Aqui tem índio de verdade!
- Eu, heim, Rosa!?
- Quero minha mãe!...
E um outro mais retumbante:
- Salve-se quem puder!
Debandada geral.
Uns correm; outros se escondem em
moitas próximas; outros sobem em árvores; as meninas se agarram nos braços da
Professora, também espantada e sem saber o que fazer.
O Diretor do Jardim Botânico nem se
abala. Dava boas gargalhadas com o apavoramento dos visitantes, enquanto a
flecha enfeitada de penas coloridas, enterrada no chão, ainda tremia pelo
impacto.
A Professora, implicada, num inquieto
reparo de indiscrição:
- Meu Deus, essa flechada quase
acerta o Senhor! Que brincadeira é essa?
Sem dizer uma palavra, Felício
Esmaragdo Valverde mantém o sorriso zombeteiro diante da apreensão do grupo
visitante. Alisa a barbicha e, em tom macio, carinhoso, amigo:
- Dona Diana, meus Jovens, fiquem
calmos! Tudo uma brincadeira fora do script,
com sabor de alegria. A flecha é verdadeira, sim, feita de osso de
canela-de-ema, envernizada com veneno de cobra e escorpião. O guerreiro,
também. Mas não se trata de ataque do Índio Peri. Na haste da flecha tem um
papel amarrado. Traz uma mensagem, aposto. Leia para nós, Dona Diana.
A Professora ainda ressabiada,
retira, mãos trêmulas, o pedacinho de papel.
Silêncio.
Ela lê o bilhete com atenção,
tranquilizada exclama:
- Escute, Gente: aqui está escrito:
Educação Ambiental - o caminho mais curto e eficiente para modificar a relação
do homem com a Natureza. Parabéns, Professora Diana Pena! Parabéns Meninas!
Parabéns, Meninos! Voltem sempre.
Sorrisos curiosos. Todos olham para o
Professor, admirados.
A Professora, agora tranquila:
- Uê! Como esse índio guerreiro sabia
meu nome?
- Muito simples. É uma homenagem do
Jardim Botânico aos professores que trazem alunos para um contato direto com a
Natureza. O seu nome e de sua escola já estão registrados em nossos arquivos.
Agora, cada estudante, ao sair, vai assinar o livro de visitas. E olhando para
todos:
- No futuro, quando vocês passarem
aqui, muitos vindos de muito longe, e rever nossos registros, as assinaturas de
todos lembrarão com doçura este dia.
- Hummm, que chique! – brinca a
Professora.
- Obá! – gritam os estudantes,
sentindo-se importantes.
- Estou maluco para ficar adulto,
casar e trazer meus filhos para conhecer o Jardim e ver minha assinatura –
apressa Pascoal.
- Vamos assinar o tal livro, já!!! –
conclama Henri.
Chico se apressa:
- Onde está, Professor, já destampei
minha caneta esferográfica!
- Quem chegar por último é...
Ana Laura aproveita e cobra,
resumindo o consenso geral:
- Espera aí, Gente, e o papagaio?
- Verão já. O Diretor adianta uns dez
passos e grita, com voz no jeito de índio falar:
- Índio Misterioso, poder descer da
árvore.
Rapidamente, surge um homem vestido
de índio, isto é: descalço, de tanga recoberta com penas coloridas, colares de
osso no pescoço, nos braços e nas pernas; a cara pintada de vermelho. Mesmo
disfarçado assim, não foi difícil reconhecer, travestido de selvagem, o
Porteiro Juraci Silva. Muito sorridente, caminhando de mansinho até o grupo de
pessoas.
Os meninos batem palmas.
- Olhem: é o Juraci, Gente, o dos
pirulitos...
- ... Aquele do portão do Jardim
Botânico!
- Aqui só tem artista... – brinca
Janete.
- E Pau-Brasil!
Em sotaque tribal, Juraci Silva
agradece, numa brincadeira:
- Índio ficar grato, ficar muito
emocionado.
Ana Laura insiste e também brinca:
- Bom dia, Índio Juraci. Uê!... Achei
que o papagaio que ouvimos vinha empoleirado no seu ombro!
Gritos em coro:
- O papagaio! Queremos ver o
papagaio!
Juraci promete:
- Índio mostrar o papagaio, sim. Aqui
e agora.
Dá um salto para trás, tira preso no
elástico que segurava a tanga, bem camuflado, um gravador pequeno, levanta no
ar e justifica, rindo:
- Este ser papagaio eletrônico, índio
fazer ele falar direitinho, que nem de verdade.
Num gesto delicado, liga o aparelho e
a gravação repete:
- Currupaco-papaco! Ô Felício! Ô
Felício! Ô Esmaragdo!
A meninada decepciona-se. Cada um com
o sorriso mais amarelo:
- Ah!... Ohhhh!....
Os adultos desatam uma risada com o
desapontamento momentâneo dos colegiais. O Diretor bate palmas, chamando a
atenção dos estudantes, e esclarece:
- Calma, meus Jovens! Não quero ver
ninguém triste aqui. O nosso Juraci é um índio de verdade, da tribo dos Machadais,
nosso funcionário há muito tempo. Sempre que pode, encena essa demonstração.
Aqui até as aves são artistas alegres!... Mas temos outra surpresa...
Maria Vitória, em nome dos colegas:
- Professor, deixa de fazer hora e
mostra logo o papagaio.
- Queremos era ver um papagaio de
verdade – pede o Chico.
Silêncio.
O Professor chama, em voz alta, por
um dos zeladores. Logo aparece um homem de aspecto humilde, olhos redondos e
negros, muito brilhantes. Ele, agitando no ar uma das mãos e, com a outra,
tocando uma música num instrumento muito esquisito. Era um velho Realejo, onde
também se equilibrava, toda serelepe, uma Calopsita importada da
África.
Mais surpresas.
Nenhum dos meninos conhecia um
instrumento assim. Nem de ouvir falar, nem de gravura. Ficam satisfeitos e, com
jovialidade, recebem o velho, a quem o Professor chama Godofredo, e sua
maritaca adestrada.
O Professor abana a cabeça:
- Não é um papagaio dos grandes. Não
fala, mas desperta muita emoção. Antigamente, o Realejo, esse instrumento
popular, como vêm, é espécie de órgão mecânico portátil. Tem um fole e teclado,
que são acionados por um cilindro dentado movido por essa manivela. Servia, e
ainda serve, de meio para consultar a sorte de um bisbilhoteiro, principalmente,
no amor.
- Obá!!!
- Quero saber o nome de meu namorado!
– brinca Maria Vitória.
- Calma, Gente. Deixe o Professor
Felício...
- Esmaragdo Valverde...
- Terminar a explicação... -
interfere a Professora.
- Vejam só: o Godofredo faz um sinal
com a mão, a maritaca desce até a cestinha presa ao lado do Realejo e pega com
o bico um papelzinho dobrado. Tem um tantão deles, cada com uma mensagem
escrita.
O Professor, com cara de mistério,
puxa Maria Vitória pelo braço:
- Vamos ver o que a Calopsita tira para você? Usam muito essa
brincadeira para conhecer recados de namorados. Vamos lá...
Ao ver o sinal do Godofredo, a
maritaca puxa um bilhetinho do cesto.
Maria Vitória lê, em voz alta:
- Escutem: Na natureza nada é inútil.
Tudo tem a sua razão de ser. Tudo precisa ser respeitado.
- Quebrou a cara a Aparecida...
- Bem feito! Com esse braço na tipoia
nenhum namorado quer você nem morto...
- Mas a mensagem é bonita, Chico!
Ana Laura quer uma mensagem. A
maritaca faz seu trabalho, e a menina lê: Viver de bem com a Natureza só
depende de Você. Ame a Natureza. Seja feliz.
Chico também ganha um bilhetinho:
Defender a Natureza é um ato de cidadania. Um compromisso de amor.
Obas gerais.
Foi preciso fazer uma fila indiana,
senão embolavam todos de uma vez em redor do Godofredo. Ninguém deixou de
receber seu recadinho da maritaca.
Logo, o Professor recomenda ao
encarregado:
- Seu Godô, agora guarde o realejo
com o mesmo cuidado e carinho que o senhor lhe dedica há anos, solte a Calopsita na seu viveiro predileto. E aguarde
meu sinal para acompanhar a Professora e seus estudantes em um passeio pelo
Jardim Botânico. Mostre a eles tudo que quiserem, certo?
- Sim senhor! – também simpático o
Zelador.
O Diretor despede-se de Dona Diana, enaltecendo
sua profissão:
- Educar é um sacerdócio. Exige de
nós muita dedicação, amor e, principalmente, acreditar no ser humano como fonte
de crescimento. Só a educação pode fazer com que uma Nação mude para melhor. Você
faz, a transformação acontece.
Os olhos negros e miúdos da
Professora Diana umedecem. Num gesto rápido, tira os óculos escuros de sua
bolsa e coloca no rosto.
O Professor Felício suspira. Antes de
sair, após limpar a testa e o pescoço, molhados pela emoção, diz:
- Só falta mais uma coisa para
encerrar o passeio de vocês com chave de ouro.
- ???
- Como a manhã já vai alta e ninguém
é de ferro, vamos todos almoçar no Refeitório do Jardim Botânico. São meus
convidados.
- Obá – grita a meninada cheia de
entusiasmo.
E com mais força na voz:
- Vivaaaaaa o Professor Felício E s –
m a – r a – g d o Valverde!
O canário estala. O sabiá canta
noutro galho e distante. As abelhas no afã de cumprir ordens de sua rainha,
zumbem, pesadas de mel no corpo e pólen nas patinhas e o beija-flor, agora de
companheira, descansa num ramo de árvore, observando tudo ao redor.
Primavera no Brasil é assim. E muito
mais.
Nota:
O que é Livro Paradidático?
Livro paradidático é considerado
uma ótima ferramenta para os profissionais do magistério, utilizado
principalmente para o ensino fundamental. São constituídos de informações
objetivas que, em resumo, almejam transmitir conhecimento e informação mais
detalhadas aos alunos.
Com isso, abordam assuntos
paralelos ligados às matérias do currículo regular, de forma a complementar aos
livros didáticos. Exemplo: uma publicação sobre a Mata Atlântica Brasileira,
coloca ao leitor aspectos da ecologia, criada de forma a complementar ao livro
de Biologia, utilizado regularmente em sala de aula.
O Professor
pode utilizar o Livro Paradidático como suporte para planejar suas aulas,
elaborar atividades, selecionar questões, ampliar seus conhecimentos e elaborar
avaliações. Para o aluno torna-se indispensável. É através dele que o aprendiz
interage com a história, desenvolve pesquisas e conhece civilizações, povos e
culturas que existiram na história das civilizações.
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