A SAGA DO PAU-BRASIL

Procurei mostrar a trajetória heróica do Pau-Brasil em nossa História, como se apontando no mapa o curso do Velho Chico. O Brasil, quando mais conhece, mais ama. Mais respeita ** O livro está disponível nas principais LIVRARIAS do país, distribuído pela JURUÁ EDITORA, ou pedido pelo e-mail: welingtonpinto@yahoo.com.br ; welingtonpinto@oi.com.br *** CLIQUE abaixo (View my complete profile) e veja mais sites do autor sobre literatura.

Friday, April 01, 2005

12/XII - A CORTE PORTUGUESA ABRE OS OLHOS


XII

 

- Vejam bem: os corsários contrabandistas, também conhecidos por brasileiros, não só influenciaram o nome de nosso País, como também contribuíram para abrir os olhos da Coroa Portuguesa, na conquista definitiva do Brasil.

Luísa não se contém:

- Quais foram os maiores contrabandistas?

- Os franceses. Campeões absolutos do tráfico de Pau-Brasil, sem a menor sombra de dúvida. Dizem que, com a ajuda dos Tupinambás, levaram daqui mais Pau-Brasil do que os portugueses, para atender a demanda crescente de corantes na indústria têxtil francesa.

Em 1503 o navio L´Espoir de Honfleur, tripulado por bretões e normandos, abriu o caminho do contrabando francês de Pau-Brasil na costa brasileira. A partir daí as visitas tornaram-se constantes, e, com o apoio da Corte Francesa. O rei Francisco I (1515-1547), até mandou ao rei de Portugal o seguinte recado: eu não conheço o testamento em que meu avô Adão legara herança americana apenas aos primos de Portugal e Espanha.

Em resposta à ousadia dessa gente, a Corte Portuguesa intensificou o combate aos contrabandistas. Entre os vários navios de bandeira francesa apreendidos e incendiados, destaca-se o La Pélérine, preso pelos lusitanos no torna-viagem, carregado de centenas de toras de Pau-Brasil, 300 macacos, 600 papagaios, 3.000 peles de onças, 300 quintais, isto é, 1762 quilos de algodão e outros produtos.

- Os franceses eram amigos dos índios? – quer saber Alice.

- Poucos exploradores podiam se igualar aos franceses no conhecimento e no trato com os índios, o que contribuía para facilitar o escambo. A maioria dos exploradores considerava os nativos uma raça inferior e bárbara; tratava-os como escravos, como já vimos.

- Que horror?! – quase grita Maria Vitória, ressabiada.

- Olha aí apareceu a aparecida!

- Olha aqui, Chico Decoreba, o gesso no meu braço...

Risos e olhares para o lado do Chico.

- Ordem na assembleia, Meninos! – pede a Professora.

Pausa com risos despistados. O Professor conclui:

- A pirataria, meus Jovens, nas costas brasileiras crescia dia a dia. E o Governo Português, pouco ou quase nada fazia para combater o tráfico de Pau-Brasil.

Vitor empina a mão direita e protesta:

- Por que aqueles portugueses não usaram canhões para estourar os navios invasores?

- Ora, Vitor, é claro. Canhões Portugal tinha aos montes, só que estavam ocupados em garantir as conquistas na Ásia. Vez ou outra Portugal mandava uma expedição para vigiar as costas brasileiras e botar os piratas a correr, digo: para nadar, com estouros de seus pesados canhões.

Até 1531, a expedição de guarda-costas mais importante foi a de Martim Afonso de Souza, comandante de uma frota de cinco navios e quatrocentos homens armados até os dentes. Mal desembarca no Porto de Piaçaguera, na altura de Pernambuco, aprisiona dois navios franceses lotados de Pau-Brasil.

- Então Martim Afonso foi um herói na defesa do Pau-Brasil? – entusiasma Tijuca.

- Sim, meu Jovem. A fibra, a coragem, a decisão de Martim Afonso fez com que, durante muito tempo, navio pirata para ancorar aqui tinha que dar sorte ou ser muito esperto. A frota do Capitão Martim subia e descia a costa brasileira com a ordem de atirar em navios de bandeira estrangeira, que estavam levando a madeira brasileira.

- Atirava e depois perguntava, Professor? – brinca o Ewerton.

- A partir daí, o Pau-Brasil se torna um monopólio da Coroa Portuguesa, ficando encarregada exclusivamente de sua exploração e comercialização.

- Até quando exploraram o Pau-Brasil, no Brasil? – pergunta Marise.

- Acredite se quiser: até acabar. Derrubaram o Pau-Brasil a torto e a direito. Em pouco mais de trezentos anos o estoque natural em nossas matas quase zerou. A ação destruidora dos europeus foi tão violenta que a Natureza foi incapaz de se recompor. Uma devastação! Alguns pés ainda são preservados em pequenos projetos florestais, em Jardins Botânicos, em praças e em ruas de algumas cidades brasileiras. Ou ainda outra, camuflada no meio de mata fechada, que escapou dos predadores ou rebrotou.

- Pau-Brasil rebrota? – pergunta Róbson.

- Ainda bem. Mas sua muda se faz com semente. Uma curiosidade: na Estação Ecológica Pau-Brasil, lá na Bahia, ainda restam algumas espécimes dessa madeira do tempo de Cabral, possivelmente árvores rebrotadas. Uma delas é chamada pelos pesquisadores de Pau-Brasil Rei, tem dois metros e sessenta centímetros de circunferência e 40 metros de altura.

Dona Diana aproveita e cita:

- A descoberta da anilina, no princípio do XVIII, contribuiu para diminuir o interesse pelo Pau-Brasil. Estou certa, Professor Valverde...

- Felício Esmaragdo... Minha cara Diana...

- Desculpe-me, Professor. Prometo me lembrar do Esma... ra... gdo direitinho.

- Sim. O produto químico, extraído do carvão-de-pedra, então, substituiu a tinta vegetal, por um custo menor e com qualidade extraordinária. Tanto que, em setembro de 1826, Dom Pedro I, mandou cinquenta quintais, isto é, três toneladas de toras de Pau-Brasil para serem leiloadas em Londres e liquidar parte dos juros da dívida brasileira. Um fiasco. A venda não deu para cobrir o custo de transporte, a madeira de tinta estava com a cotação em baixa no mercado europeu, em consequência do crescimento da indústria de anilinas.

- A dívida foi paga? – pergunta Adauto com um sorriso torcido.

- Acredito que sim, mas não foi com o resultado do leilão de Pau-Brasil na Bolsa de Mercadorias de Londres, claro.

Isabel levanta a mão e com ar de mistério:

- A cidade onde moro tem ruas plantadas com Pau-Brasil.

- Uê! Você não mora em Belo Horizonte?

- Ora, Filipe, eu não disse que não moro aqui. É aqui mesmo que tem ruas arborizadas com Pau-Brasil.

- E onde ficam essas ruas?

- Em vários bairros. Na rua onde mora minha Vó Filhinha mesmo tem. Na rua da Tia Ila. Da Tia Guiomar, da Tia Ida. Na pracinha onde mora o Tio Oliveiro. Na cidade onde mora o Tio Zezé.

- Eu também sei onde tem pé dessa árvore – ri toda orgulhosa, Ana Laura.

- Se Você sabe, então conte.

- No clube que frequento tem dezenas de árvores de várias qualidades, quero dizer, espécies, não é assim mesmo Professor Felício? E, no meio delas, foi plantado um pé de Pau-Brasil que meu pai doou ao Minas Tênis para enriquecer mais ainda seu nicho ecológico, que funciona como um oásis bem no centro da Capital.

- Parabéns para seu Clube! - festeja Cidinha.

O Diretor dá uma risada, feliz, e também aplaude:

- Gosto do bate-boca de vocês. É uma ação cívica plantar nossa querida árvore em praças, jardins públicos, ruas, clubes recreativos e principalmente, nas margens das estradas, o que daria sombra, proteção e madeira para ser utilizada em construções públicas. Desde o princípio do século XX a ideia era difundida pelo biólogo pernambucano, Professor Roldão Campos, que queria ver em cada cidade brasileira pés de Pau-Brasil preservados. Afinal, preservar a Natureza é preservar a vida, não é mesmo?

- Siiiiimmmm – gritos todos concordando.

Marisa logo pergunta, curiosa:

- Professor, como hoje é utilizado o Pau-Brasil?

- A sua utilidade é muito variada, excelente madeira para construção civil e naval. Na marcenaria fina também; serve até para fazer arco de violino.

- Instrumento musical!... – admira Ana Júlia.

- Sim. Beethoven, Mozart e outras feras da música clássica eram fãs de carteirinha de arco feito de Pau-Brasil para tocar violino. O som sai mais cristalino, vai mais longe. Curiosidade: na cidade de Guaraná, no Estado do Espírito Santo, tem uma velha fábrica de arco de Pau-Brasil para instrumento de corda.

- Legal!... – todos.

- Os escultores também gostam de fazer suas peças com Pau-Brasil. A madeira bem lixadinha adquire uma textura muito fina e delicada. Fica como bumbum de neném!

Todos riram. O professor continua entusiasmado:

- Na medicina popular, os índios usavam o pau-de-tinta para curar diversos males. E Maurício de Nassau foi o primeiro homem público a recolher amostras de Pau-Brasil para estudos científicos na Europa. No Brasil, o cientista pernambucano, José Lamarotti tem uma longa pesquisa sobre o poder medicinal dessa planta. São infinitas as propriedades de nossa árvore.

Dona Diana, sorridente:

- Muito bem, Professor Felício. Adoramos sua história. Só para completar: tem gente preocupada em repovoar nossas matas com Pau-Brasil. Entre tantos, a professora Ana Cristina, filha do Professor Roldão, que dirige a Fundação Nacional do Pau-Brasil. Na Bahia, a Embrapa estuda o DNA das árvores existentes na Estação Pau-Brasil. Ainda tem gente trabalhando para devolver ao seu habitat natural uma espécie vegetal que jamais poderia ser extinta!

- Professora Diana, quero parabenizá-la por trazer seus alunos para conhecer a Natureza in-loco.

- In ... lo... O quê!... – estranha Ana Laura.

- In-loco - repete a Professora. - Isso quer dizer: estudar, observar uma árvore no local onde está plantada. Entende?

O Professor Felício sugere:

- Cheguem todos para cá, vamos abrir uma roda em torno deste Pau-Brasil. De mãos dadas, recitaremos um poema em sua homenagem, como se hoje fosse o seu dia. Repitam comigo, legal?

- Siiiimmm! - todos num grito.

Meninos e meninas abrigam-se debaixo da majestosa árvore, pisando o chão coberto de folhas secas.

O Diretor, já de pé, endireita o colete, ajeita a calça jeans e tira do bolso uma folha de papel. Contempla por um minuto a copa do Pau-Brasil. Depois, coloca-se no meio dos estudantes, faz pose e com a voz cheia, também de um artista de teatro, gestos pausados, lê:

Ao Viandante

Tu que passas e ergues para mim o teu braço,

Antes que me faças mal, olha-me bem.

Eu sou o calor de teu lar nas noites frias de inverno,

Eu sou a sombra amiga que tu encontras,

quando caminhas sob o sol de agosto.

E os meus frutos são a frescura apetitosa,

Que te sacia a sede nos caminhos.

Eu sou a trave amiga de tua casa, a tábua da tua mesa,

a cama em que descansas e o lenho de teu barco.

Eu sou o cabo de sua enxada, a porta de tua morada,

A madeira de teu berço e do teu próprio caixão.

Eu sou o pão da bondade, a flor da beleza.

Tu que passas, olha-me bem e não me faças mal.

Sem risinhos atravessados, nem deboche, os meninos acompanharam direitinho os versos lidos.

- Esse Doutor Felício é cobra criada... – brinca Chico.

A Professora sensibilizada:

- Que lindo, Professor! O Senhor também é um excelente intérprete. De quem é o poema?

Felício, que ruborizara, agradece com discreta cerimônia:

- Bondade sua. O Autor é desconhecido – e com os dedos reverentes dobra a folha de papel. - Certa vez, visitando o Castelo de São Jorge, em Lisboa, vi uma prancha de madeira gravada com esse poema. Amei os versos, fotografei a tábua e hoje passo para vocês. Tenho cópias xerocadas no escritório, que sempre distribuo aos visitantes.

- Poxa!

- Eu quero uma!

- Eu também!

- Eu também!

- Vou copiar um tantão e espalhar com a galera do meu bairro! – insiste Ana Laura, gracejando.

- A tabuleta com os versos era de Pau-Brasil? – provoca Chico.

- Infelizmente não. Era de Cedro.

- Legal, assim mesmo! – aplaude Paula com um sorriso.

- Joia!

- O Professor é um barato mesmo! – aclama Hugo, radiante.

Felício Esmaragdo Valverde sorri amável. Curva o tronco num gesto de agradecimento, aquele gesto de artista no palco, emocionado com os aplausos de uma grande plateia. Dona Diana aproveita a oportunidade:

- Que ótimo que nos recebeu com tanto carinho, tornando nosso passeio uma fonte de aprendizado e divertimento. Aprendemos História e Ecologia e até como declamar um poema!

- Disponha. Entendo cada vez mais porque seus alunos são tão interessados, conscientes e amigos.

Risos gerais.

- O Jardim Botânico, Dona Diana, minhas Meninas, meus Meninos, está aberto a qualquer interessado em ter um contato direto com a Natureza. Tenho a certeza de que os visitantes saem daqui mais puros de alma, bem mais interessados em defender a Ecologia e muito mais responsáveis.

Súbito, a mesma voz de um papagaio invisível interrompe as fala e os risos:

- Ô Felício! Ô Professor! Ô Esmaragdo! Currupaco!

Os estudantes olham uns para os outros, ainda mais admirados e curiosos. Procuram o misterioso papagaio por todos os lados.

- É o mesmo, Professor, o mesmo papagaio! – afirma Robson.

- Pelo menos, a voz é igual – garante Maria Vitória;

Nisso, uma flecha de índio, da verdadeira, corta o ar, assobiando, numa velocidade tremenda e se finca no chão, próximo ao pé do Diretor.

Susto geral.

- Vamos cascar fora, Pessoal! – gritam uns.

- Essa não!!!

- Aqui tem índio de verdade!

- Eu, heim, Rosa!?

- Quero minha mãe!...

E um outro mais retumbante:

- Salve-se quem puder!

Debandada geral.

Uns correm; outros se escondem em moitas próximas; outros sobem em árvores; as meninas se agarram nos braços da Professora, também espantada e sem saber o que fazer.

O Diretor do Jardim Botânico nem se abala. Dava boas gargalhadas com o apavoramento dos visitantes, enquanto a flecha enfeitada de penas coloridas, enterrada no chão, ainda tremia pelo impacto.

A Professora, implicada, num inquieto reparo de indiscrição:

- Meu Deus, essa flechada quase acerta o Senhor! Que brincadeira é essa?

Sem dizer uma palavra, Felício Esmaragdo Valverde mantém o sorriso zombeteiro diante da apreensão do grupo visitante. Alisa a barbicha e, em tom macio, carinhoso, amigo:

- Dona Diana, meus Jovens, fiquem calmos! Tudo uma brincadeira fora do script, com sabor de alegria. A flecha é verdadeira, sim, feita de osso de canela-de-ema, envernizada com veneno de cobra e escorpião. O guerreiro, também. Mas não se trata de ataque do Índio Peri. Na haste da flecha tem um papel amarrado. Traz uma mensagem, aposto. Leia para nós, Dona Diana.

A Professora ainda ressabiada, retira, mãos trêmulas, o pedacinho de papel.

Silêncio.

Ela lê o bilhete com atenção, tranquilizada exclama:

- Escute, Gente: aqui está escrito: Educação Ambiental - o caminho mais curto e eficiente para modificar a relação do homem com a Natureza. Parabéns, Professora Diana Pena! Parabéns Meninas! Parabéns, Meninos! Voltem sempre.

Sorrisos curiosos. Todos olham para o Professor, admirados.

A Professora, agora tranquila:

- Uê! Como esse índio guerreiro sabia meu nome?

- Muito simples. É uma homenagem do Jardim Botânico aos professores que trazem alunos para um contato direto com a Natureza. O seu nome e de sua escola já estão registrados em nossos arquivos. Agora, cada estudante, ao sair, vai assinar o livro de visitas. E olhando para todos:

- No futuro, quando vocês passarem aqui, muitos vindos de muito longe, e rever nossos registros, as assinaturas de todos lembrarão com doçura este dia.

- Hummm, que chique! – brinca a Professora.

- Obá! – gritam os estudantes, sentindo-se importantes.

- Estou maluco para ficar adulto, casar e trazer meus filhos para conhecer o Jardim e ver minha assinatura – apressa Pascoal.

- Vamos assinar o tal livro, já!!! – conclama Henri.

Chico se apressa:

- Onde está, Professor, já destampei minha caneta esferográfica!

- Quem chegar por último é...

Ana Laura aproveita e cobra, resumindo o consenso geral:

- Espera aí, Gente, e o papagaio?

- Verão já. O Diretor adianta uns dez passos e grita, com voz no jeito de índio falar:

- Índio Misterioso, poder descer da árvore.

Rapidamente, surge um homem vestido de índio, isto é: descalço, de tanga recoberta com penas coloridas, colares de osso no pescoço, nos braços e nas pernas; a cara pintada de vermelho. Mesmo disfarçado assim, não foi difícil reconhecer, travestido de selvagem, o Porteiro Juraci Silva. Muito sorridente, caminhando de mansinho até o grupo de pessoas.

Os meninos batem palmas.

- Olhem: é o Juraci, Gente, o dos pirulitos...

- ... Aquele do portão do Jardim Botânico!

- Aqui só tem artista... – brinca Janete.

- E Pau-Brasil!

Em sotaque tribal, Juraci Silva agradece, numa brincadeira:

- Índio ficar grato, ficar muito emocionado.

Ana Laura insiste e também brinca:

- Bom dia, Índio Juraci. Uê!... Achei que o papagaio que ouvimos vinha empoleirado no seu ombro!

Gritos em coro:

- O papagaio! Queremos ver o papagaio!

Juraci promete:

- Índio mostrar o papagaio, sim. Aqui e agora.

Dá um salto para trás, tira preso no elástico que segurava a tanga, bem camuflado, um gravador pequeno, levanta no ar e justifica, rindo:

- Este ser papagaio eletrônico, índio fazer ele falar direitinho, que nem de verdade.

Num gesto delicado, liga o aparelho e a gravação repete:

- Currupaco-papaco! Ô Felício! Ô Felício! Ô Esmaragdo!

A meninada decepciona-se. Cada um com o sorriso mais amarelo:

- Ah!... Ohhhh!....

Os adultos desatam uma risada com o desapontamento momentâneo dos colegiais. O Diretor bate palmas, chamando a atenção dos estudantes, e esclarece:

- Calma, meus Jovens! Não quero ver ninguém triste aqui. O nosso Juraci é um índio de verdade, da tribo dos Machadais, nosso funcionário há muito tempo. Sempre que pode, encena essa demonstração. Aqui até as aves são artistas alegres!... Mas temos outra surpresa...

Maria Vitória, em nome dos colegas:

- Professor, deixa de fazer hora e mostra logo o papagaio.

- Queremos era ver um papagaio de verdade – pede o Chico.

Silêncio.

O Professor chama, em voz alta, por um dos zeladores. Logo aparece um homem de aspecto humilde, olhos redondos e negros, muito brilhantes. Ele, agitando no ar uma das mãos e, com a outra, tocando uma música num instrumento muito esquisito. Era um velho Realejo, onde também se equilibrava, toda serelepe, uma Calopsita importada da África.

Mais surpresas.

Nenhum dos meninos conhecia um instrumento assim. Nem de ouvir falar, nem de gravura. Ficam satisfeitos e, com jovialidade, recebem o velho, a quem o Professor chama Godofredo, e sua maritaca adestrada.

O Professor abana a cabeça:

- Não é um papagaio dos grandes. Não fala, mas desperta muita emoção. Antigamente, o Realejo, esse instrumento popular, como vêm, é espécie de órgão mecânico portátil. Tem um fole e teclado, que são acionados por um cilindro dentado movido por essa manivela. Servia, e ainda serve, de meio para consultar a sorte de um bisbilhoteiro, principalmente, no amor.

- Obá!!!

- Quero saber o nome de meu namorado! – brinca Maria Vitória.

- Calma, Gente. Deixe o Professor Felício...

- Esmaragdo Valverde...

- Terminar a explicação... - interfere a Professora.

- Vejam só: o Godofredo faz um sinal com a mão, a maritaca desce até a cestinha presa ao lado do Realejo e pega com o bico um papelzinho dobrado. Tem um tantão deles, cada com uma mensagem escrita.

O Professor, com cara de mistério, puxa Maria Vitória pelo braço:

- Vamos ver o que a Calopsita tira para você? Usam muito essa brincadeira para conhecer recados de namorados. Vamos lá...

Ao ver o sinal do Godofredo, a maritaca puxa um bilhetinho do cesto.

Maria Vitória lê, em voz alta:

- Escutem: Na natureza nada é inútil. Tudo tem a sua razão de ser. Tudo precisa ser respeitado.

- Quebrou a cara a Aparecida...

- Bem feito! Com esse braço na tipoia nenhum namorado quer você nem morto...

- Mas a mensagem é bonita, Chico!

Ana Laura quer uma mensagem. A maritaca faz seu trabalho, e a menina lê: Viver de bem com a Natureza só depende de Você. Ame a Natureza. Seja feliz.

Chico também ganha um bilhetinho: Defender a Natureza é um ato de cidadania. Um compromisso de amor.

Obas gerais.

Foi preciso fazer uma fila indiana, senão embolavam todos de uma vez em redor do Godofredo. Ninguém deixou de receber seu recadinho da maritaca.

Logo, o Professor recomenda ao encarregado:

- Seu Godô, agora guarde o realejo com o mesmo cuidado e carinho que o senhor lhe dedica há anos, solte a Calopsita na seu viveiro predileto. E aguarde meu sinal para acompanhar a Professora e seus estudantes em um passeio pelo Jardim Botânico. Mostre a eles tudo que quiserem, certo?

- Sim senhor! – também simpático o Zelador.

O Diretor despede-se de Dona Diana, enaltecendo sua profissão:

- Educar é um sacerdócio. Exige de nós muita dedicação, amor e, principalmente, acreditar no ser humano como fonte de crescimento. Só a educação pode fazer com que uma Nação mude para melhor. Você faz, a transformação acontece.

Os olhos negros e miúdos da Professora Diana umedecem. Num gesto rápido, tira os óculos escuros de sua bolsa e coloca no rosto.

O Professor Felício suspira. Antes de sair, após limpar a testa e o pescoço, molhados pela emoção, diz:

- Só falta mais uma coisa para encerrar o passeio de vocês com chave de ouro.  

- ???

- Como a manhã já vai alta e ninguém é de ferro, vamos todos almoçar no Refeitório do Jardim Botânico. São meus convidados.

- Obá – grita a meninada cheia de entusiasmo.

E com mais força na voz:

- Vivaaaaaa o Professor Felício E s – m a – r a – g d o Valverde!

O canário estala. O sabiá canta noutro galho e distante. As abelhas no afã de cumprir ordens de sua rainha, zumbem, pesadas de mel no corpo e pólen nas patinhas e o beija-flor, agora de companheira, descansa num ramo de árvore, observando tudo ao redor.

Primavera no Brasil é assim. E muito mais.

 

 

 

Nota:  

O que é Livro Paradidático?

Livro paradidático é considerado uma ótima ferramenta para os profissionais do magistério, utilizado principalmente para o ensino fundamental. São constituídos de informações objetivas que, em resumo, almejam transmitir conhecimento e informação mais detalhadas aos alunos.

Com isso, abordam assuntos paralelos ligados às matérias do currículo regular, de forma a complementar aos livros didáticos. Exemplo: uma publicação sobre a Mata Atlântica Brasileira, coloca ao leitor aspectos da ecologia, criada de forma a complementar ao livro de Biologia, utilizado regularmente em sala de aula.

O Professor pode utilizar o Livro Paradidático como suporte para planejar suas aulas, elaborar atividades, selecionar questões, ampliar seus conhecimentos e elaborar avaliações. Para o aluno torna-se indispensável. É através dele que o aprendiz interage com a história, desenvolve pesquisas e conhece civilizações, povos e culturas que existiram na história das civilizações.


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