06/VI - A FESTA DO PAU-BRASIL
VI
-
Dias mais tarde – continua o Professor Felício - D. Manuel I recebe com
entusiasmo o mensageiro de Cabral. Depois de ler todas as cartas dirigidas a
ele, fica impressionado com a riqueza de detalhes do relato de Pero Vaz de
Caminha. Faz o sinal-da-cruz e beija os dedos cruzados, agradecido: pareceu que
Nosso Senhor milagrosamente quis que se achasse terra tão generosa em tão
preciosa planta de tinta!
O
rei enchia os olhos diante dos toros de Pau-Brasil, e também dos papagaios
tagarelas. Na verdade, não esperava notícias tão agradáveis da nova colônia.
Juntava gente no Palácio para escutar, imaginando todos mundos e fundos com a
minuciosa descrição da terra encantada.
-
Babava, isso sim, com as novidades - completa Cidinha.
- E
as outras cartas? - Dinha questiona.
-
Também importantes, é claro. Tinha carta até do próprio Cabral e de outros
tripulantes das caravelas para D. Manuel I, como também para as suas famílias,
amigos, namoradas. Entre essas cartas, a do Mestre João, que descrevia a
constelação do Cruzeiro do Sul, muito bonita e jamais vista por olhos europeus.
Mas
a Carta de Pero Vaz de Caminha destacou-se das demais, lógico, pelas minúcias
bem relatadas durante a viagem e da descrição da nova terra, num depoimento de
entusiasmo e alegria, de um escrivão impressionado com a beleza do lugar e com
a felicidade dos nativos, sempre com um perpétuo sorriso em tudo. Foi através
dela que a Europa ficou sabendo que tinha portos seguros, gentio amigável e
ares balsâmicos. E, na sua vastidão, coberta pela esbraseada madeira. Através
da Carta de Caminha, ainda hoje é possível reconstituir com pormenores os dias
inaugurais do Brasil, o nascimento de nossa Pátria.
- Um
bom historiador, esse Caminha, heim Professora!?
-
Boa observação, Márcia. Quando voltarmos, vamos ler mais trechos da Carta.
Muito curiosa e importante.
Todos:
-
Claro, Dona Diana!!!
Um
fala meio escondido:
-
Convida o Professor para ir escutar a Carta também.
- E
lá em nossa sala de aula...
-
Assentadinho bem na frente...
- E
bem comportado...
- E
sem dar muito palpite feito o Douglas aí...
- Só
o coitado do Douglas?
-
Evidente, Meninos! Já está convidado, em nome de toda a turma, Professor
Esma...
-
... ragdo Valverde, Dona Diana. Vou, sim, e com maior prazer. E me comporto de
acordo... Marquem o dia e a hora. Aproveito e levo um personagem muito
importante que ainda vão conhecer e admirar... Surpresa! Também...
-
Professor, essas cartas estão guardadas em algum museu?
- A
grande maioria, Vitória, foi queimada num incêndio em Lisboa, em 1580. As que
escaparam do fogo, foram engolidas pelo terremoto de 1755. Azar e tanto, né!
Restaram apenas a de Caminha, do Mestre João e a Relação do Piloto Anônimo.
Risos
parcelados. O mestre continua a história:
- O
poder, então, sobe à cabeça do rei D. Manuel I. Tanto que anuncia aos outros
reinos, com muita propaganda, a nova descoberta de Portugal. Para o rei da
Espanha escrevera carta especial, considerando-se senhor da Guiné e da
conquista, da navegação e do comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia...
Senhor da Terra de Vera Cruz, onde existe a maior concentração de pau-de-tinta
do Mundo.
Lisboa
transforma-se num atrativo centro de negócios de além-mar, tornando-se uma das
cidades mais ricas da Europa e o mais ativo mercado de Pau-Brasil, escravos e
especiarias do Mundo. Imediatamente foi invadida por banqueiros alemães,
liderados pela família Fugger, comerciantes italianos e agentes judeus que
especulavam com especiarias e Pau-Brasil.
Dom
Manuel I manda instalar no Salão Imperial uma grande exposição e exibe com
destaque as peças de Pau-Brasil e outras amostras da Terra de Vera Cruz. Tinha
papagaio até falando Português misturado com língua dos índios... Um grande
acontecimento em Lisboa, prestigiado pelos maiores comerciantes e industriais
ligados ao mercado têxtil da Europa.
Renata,
interessada:
- E
aí, Professor, quando apareceu pela primeira vez o nome do Brasil nos mapas?
- Em
1501, no mapa de Cantino, logo após a viagem de Américo Vespúcio, que dá o nome
de rio Brasil, o que fica próximo de Porto Seguro.
O
Professor, após uma pequena pausa:
-
Portugal vivia o Século Áureo. Vasco da Gama descobrira o itinerário das
especiarias e Pedro Álvares Cabral o país do Pau-Brasil. E Lisboa tornava-se a
Senhora dos Mares.
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