A SAGA DO PAU-BRASIL

Procurei mostrar a trajetória heróica do Pau-Brasil em nossa História, como se apontando no mapa o curso do Velho Chico. O Brasil, quando mais conhece, mais ama. Mais respeita ** O livro está disponível nas principais LIVRARIAS do país, distribuído pela JURUÁ EDITORA, ou pedido pelo e-mail: welingtonpinto@yahoo.com.br ; welingtonpinto@oi.com.br *** CLIQUE abaixo (View my complete profile) e veja mais sites do autor sobre literatura.

Sunday, April 03, 2005

02/II - A VIAGEM DE CABRAL


II


 

         O Professor Felício prossegue:

         - Atrás de nova terras para conseguir riquezas, como as que extraíam no Oriente, os portugueses não perderam tempo, ainda mais depois das descobertas de Cristóvão Colombo, para a Espanha. Assim, cheio de planos, o Almirante Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa com um frota de treze navios, com destino à Índia, onde as riquezas eram conhecidas e trazidas para a Europa com muito lucros. Viajaria mar afora pelo caminho descoberto por Vasco da Gama.

         Contam alguns historiadores que uma calmaria, isto é: uma falta de ventos para soprar na velas dos navios, obrigou a frota de Cabral a afastar-se da costa africana. Desviou-se tanto que, quarenta dias depois, com bons ventos, acaba por cruzar o desconhecido e temido Oceano Atlântico e descobre, em vinte e dois de abril de 1500, o nosso País, com sua floresta rica em Caesalpinia Echinata, o Pau-Brasil – as viagens marítimas eram muito perigosas e demoradas, como estão percebendo.

         O Professor para e pergunta:

         - Muito bem, Turma, e qual mesmo o nome da elevação de terra que Cabral e seus tripulantes avistaram primeiro?

         - O Monte Pascoal – Conceição acerta.

         - Ótimo! – e tirando um livrinho do bolso de trás das calças – aqui está cópia da carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Cabral. Marquei o trecho em que descreve esse primeiro grande momento do descobrimento. Quem quer ler para mim?

         Antes que alguém responda, Ana Laura levanta um braço:

         - Manda o Chico, ele vive esnobando que tem de locutor de rádio.

         O garoto cai na risada:

         - Você é quem deve ler... É a mais tagarela da turma.

         - Eu não! Mas se é para o bem geral de todos...

         - Muito bem, Laura. É um trechinho de nada – mostra o Professor.

         - Mas só vale em sotaque português! – sugere Ana Julia.

         - Isso eu não sei imitar. Ah!... Vamos lá: ... quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buchos. Neste dia, a horas de vésperas, houvemos vista de terra. Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo: e doutras serras mais baixas ao sul dele: e de terra chã, com grandes arvoredos: o monte alto o Capitão pôs o nome: o Monte Pascoal, e à terra, a Terra de Vera Cruz.

         - Parabéns! E por que Cabral deu esse nome ao monte?

         - Por ser época da Páscoa – pressa em dizer, Vitor.

         - Professor, essa história de calmaria parece papo furado... – Maria Vitoria, a do braço direito numa tipoia, insiste no assunto dos ventos parados.

         O Diretor coça a testa, em sinal de paus para raciocinar:

         - Com o avanço dos estudos da História do Brasil, essa lenda das calmarias já está explicada. A frota de Cabral viajou mesmo com intenção definida para tomar posse de umas terras que Portugal sabia existir, embora superficialmente, por algo, por assim dizer. Pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em Julho de 1494, ente os reis de Portugal e Espanha, todas as terras descobertas nos limites de 370 léguas além da Ilha de Santão, no Arquipélago de Cabo Verde, pertenceriam a Portugal.

         - Já li, Professor: os ventos fortes é que afastaram a frota de Cabral da rota – completa Matilde.

         - A Carta de Pero Vaz de Caminha, aquela para Cabral enviar ao Rei, conta a descoberta com pormenores. Desmente essa tese, mesmo com o desaparecimento da nau comandada por Vasco de Ataíde, como também das calmarias. Caminha informou que durante a viagem não ter havido tempo forte nem contrário.

          - Tanto segredo! Por quê?

         - O silêncio pode ser de outro – filosofa o Professor. Talvez o rei Dom Manuel I não tinha absoluta certeza de encontrar terras dentro dos limites fixados no Tratado de Tordesilhas. Um fracasso desprestigiaria a memória de Dom João II, que tinha assinado o documento, certo de assegurar parte de terras do outro lado do Mundo a Portugal, como fez Cristóvão Colombo para a Espanha. Pode ter sido essa a razão do sigilo. Caso Cabral não descobrisse nada, ninguém ia saber. O destino declarado publicamente da viagem era a distante Índia, onde ia constituir relações comerciais com Calicute e, principalmente, consolidar a presença portuguesa no continente. E quem duvidaria?

         - Rei esperto! Ninguém tinha pensado nisso – comenta Jaqueline.

         - O segredo é a alma do negócio – cita a conhecida frase o Chico, sempre com um palpite na ponta da língua.

         Risos gerais.

         - O assunto é polêmico. Em 1843, o historiador Francisco Adolfo Varnhagem, após consultar a Carta do Mestre João Faras, nos arquivos da Torre do Tombo, em Portugal, passa a defender a intencionalidade da descoberta do Brasil.

         - Professor Felício - levanta a mão Sonia – não é Var... nhagem quem descobriu a tumba com os restos mortais de Cabral?

         - Sim senhora. Isso se deu em 1839, lá em Santarém, também Portugal. Aí, ele botou a boca no mundo acusando Portugal de descaso com o túmulo.

         - Epa! – protesta um.

         - Professor, existem mais provas de que a Corte Porguesa sabia das terras por aqui? – pergunta Lucinha.

         - Sim. E bem consistentes. Se Cabral não renovou o estoque de água em Cabo Verde, é porque ele tinha segurança que faria escalas em terras ocidentais. Caso contrário, a tripulação morreria de sede antes de chegar à Índia. Tem outra versão que é um verdadeira bomba, a do historiador português Joaquim Barradas da Carvalho. Ele garante que, em 1498, Duarte Pacheco Pereira esteve no Brasil, numa viagem secreta, a serviço da Coroa. Em 1505, publicou um tratado sobre Navegação e Geografia da costa africana, com o nome Esmeraldo de Situ Orbis (Sobre os Lugares do Mundo), onde registra pormenores sobre terras na parte ocidental do Atlântico, como a de uma grande terra firme, com muitas ilhas oceânicas e cobertas de muito fino brasil. Duarte foi um dos negociantes portugueses no Tratado de Tordesilhas e comandou uma da caravelas de Cabral.

         - Que legal, sô! – surpreende Juquinha.

         O Professor vai completando a narrativa:

         - Outra prova importante. Em fevereiro de 1500, exatamente no dia dois, pouco antes da chegada de Cabral nas praias brasileira, o espanhol Vicente Yañez Pinzon, navegando com uma flotilha de quatro caravelas, desembarca na Ponta do Mucuripe, atual Estado do Ceará. Dali é que avança para o noroeste, indo descobrir a foz do Rio Amazonas. Impressionado com a vastidão de seu leito, chama o local de Santa Maria del Mar Dulce.

         Na volta para o mar, Pinzon, ainda próximo da costa do Pará, cruzou com a expedição de Diogo de Leppe, outro espanhol que navegou pelo Brasil antes de Cabral. O principal testemunho dessa viagem pioneira é a chamada Carta de Juan de La Costa, cartógrafo e navegador, escrita ainda em 1.500.

         Os visitantes imaginam a cena, e o Professor Felício conclui:

         - O certo, meus Caros: a Terra dos Papagaios, a Terra do Pau de Tingir, a Terra dos Tupis e dos Tapuias, chamada por estes de Pindorama, foi mesmo descoberta por Pedro Álvares Cabral, que encontrou ancoradouro firme, mais com alívio e satisfação, do que com surpresa. Acho que nada vai tirar o pioneirismo de Cabral. Para muitos historiadores, o ano de 1500, como descobrimento do Brasil, se reveste de um caráter mais simbólico e oficial do que real. Não importa!

         - Ao pronunciar Terra dos Papagaios os estudantes remexem nos banquinhos. O Professor percebe a inquietação, e tranquiliza os ouvintes:

         - Não me esqueci da história do papagaio desconhecido. Vocês não perdem por esperar mais um pouquinho!

         Risos confiantes. Ângela tira uma dúvida:

         - Verdade que o nome do Rio Amazonas foi uma homenagem a uma tribo de mulheres guerreiras, que vivia na região?

         - Conta a História que o navegador espanhol Francisco Orellana foi quem viajou pela primeira vez pelo enorme rio. No diário de bordo, ele relata ter encontrado índias guerreiras montadas a cavalo, como na lenda da amazonas. Pelo sim, pelo não, o fato determinou a escolha do nome para o maior rio do planeta.

         O Professor Felício volta a falar de Cabral:

         - Ele era inteligente, ambicioso, profundo conhecedor de Geografia, Ciências e da arte de navegação. Tinha muito prestígio em Portugal, tanto que na sua despedida, uma multidão tomou conta do cais. E, pelo Rio Tejo, dezenas de barcos, apinhados de gente, festejaram em torno de seus navios até a frota desaparecer no horizonte.

         Tiago se ajeita numa pedra em que estava sentado, e pergunta:

         - Aposto que Cabral também queria buscar Pau-Brasil?

         - Não. A portentosa armada de Cabral, em cujas velas dos navios realçava o enorme símbolo da cruz da Ordem de Cristo, veio apenas sondar a região. Confirmar terras, claro. Depois, voltaria à Índia para assumir de vez o domínio português naquele território; prender ao Reino Lusitano os Samorins e Rajás indianos pelos laços do comercio e da aliança diplomática, principalmente Glafer, o Samorim de Calicute.

         - Pelo bem ou pela força, não é, Professor? – caçoa Ana Laura.

         Chico levanta o braço para esclarecer uma dúvida:

         - Uai! Então Pindorama foi o primeiro nome do Brasil?

         - De certa forma, sim.

         - que significa Pindorama?

         - Em Tupi, quer dizer Terra das Palmeiras.

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