A SAGA DO PAU-BRASIL

Procurei mostrar a trajetória heróica do Pau-Brasil em nossa História, como se apontando no mapa o curso do Velho Chico. O Brasil, quando mais conhece, mais ama. Mais respeita ** O livro está disponível nas principais LIVRARIAS do país, distribuído pela JURUÁ EDITORA, ou pedido pelo e-mail: welingtonpinto@yahoo.com.br ; welingtonpinto@oi.com.br *** CLIQUE abaixo (View my complete profile) e veja mais sites do autor sobre literatura.

Sunday, April 03, 2005

01/I - PAU-BRASIL DO BRASIL




I


 

- Pau-Brasil? Nunca vi um, Professora.

- E você, Maria Vitória?

- Só ouvi falar. Sei mais que a Ana Laura!

- E você, Chico?

- Também já ouvi falar... Vi uma foto numa revista... Jornal... Que é bonita, posso garantir, Dona Diana.

A Professora:

- Levante a mão quem mais conhece ou já ouviu falar, viu fotografia, da árvore que é símbolo natural brasileiro.

- Direita ou esquerda? – brinca Maria Vitória.

- Só porque está com o braço na tipoia, aparecida! – caçoa Joana, no fundo da sala.

Chico, sempre gozador:

- Taí, gostei do aparecida... Só porque quebrou esse braço, fica levantando, na maior vantagem. Essas meninas, Dona Diana.

Maria Vitória pôs a língua para o colega, a Professora interfere:

- Chega de braço quebrado e de tipoia. Aposto que a Maria Vitória não quebrou o braço porque quis. Pelo jeito, mais da metade não ouviu falar e nem viu nossa árvore famosa. Isso mesmo, e nem uma, nem um de vocês pode ter culpa nisso. Pau-Brasil quase foi extinto em terras brasileiras...

Depois dessa conversa de fim de aula, no Colégio Alberto Santos-Dumont, a Professora Diana combina com a classe dar um passeio até o Jardim Botânico e conhecer de perto, ao vivo e a cores, um exemplar de Pau-Brasil. Para os jovens, nada melhor: uma saída do comum das aulas entusiasma a todos. Motivação melhor? A árvore famosa ia favorecer uma boa escapada da floresta de pedra da cidade grande.

No dia combinado, lá vão todos contentes, inclusive o motorista do ônibus, o Tatão, um gorducho de queixo mole e cara arredondada, que adora passar a manhã longe do trânsito agitado e admirar a natureza, principalmente uns passarinhos também raros, uma paixão de seus tempos de menino no Interior:

- Ô Dona Diana, a senhora é fogo com essas ideias.

Mal o especial estaciona em frente ao portão principal do Jardim Botânico, os estudantes, um mais assanhado que o outro, se debruçam nas janelas ou se levantam das poltronas para o corredor para descer o mais depressa.

- Já posso abrir a porta, Dona Diana? – pergunta o Tatão, cuidadoso.

A Professora, de pé junto à porta do ônibus, balança a cabeça, concordando:

- Só um minuto. Hei!... Hei!... Sem baderna, Pessoal! Sairemos em fila, bem comportados.

Os meninos, um a um, descem, falando e rindo. Acham graça em tudo.

Na entrada, orientados pelo Porteiro Juraci da Silva, um moreno troncudo, cara de índio e voz grossa, os meninos vão para a varanda do prédio da administração, onde aguardam o Diretor do Parque.

Manhã agradável, céu limpo e muito azul; poucas nuvens passeiam nas alturas. A vegetação desafiava a cidade, descia pelo Parque em camadas de glorioso verde. E nas árvores ao redor os passarinhos coloridos cantavam em galhos, ou cruzavam o ar em voos rápidos de um lado para outro.

De repente, a voz rouca de um papagaio invade a varanda:

- Ô Felício! Ô Felício! Currupaco-papaco. Ô Esmaragdo!

Todos olham para cima, procurando o dono da estranha voz. Onde? Os mais danadinhos ameaçam correr para fora do alpendre, imaginando que o papagaio só podia estar no telhado. Chico sugere, metido a entender de papagaio:

- Podemos pedir uma escada e subir para procurar o bichinho no meio daquela folhagem no beiral da varanda.

Genial a ideia. Um alvoroço, um empolgamento, querem dar palpite. Nisso, sem ninguém imaginar, um homem aparece na porta da varanda e interrompe a algazarra:

- Tchã, tchã, tchã, tchã... Aqui estou eu, Cambada!

Num pulo, os meninos recuam um passo, se embolam. O estranho homem solta uma sonora gargalhada e pergunta:

- Nunca me viram?

Ninguém responde. Todos embasbacados, olhos arregalados de espanto e curiosidade.

- Meus Senhores! Minhas Senhoras! Sou o Felício Esmaragdo Valverde, o Professor Felício, se preferem. Vieram visitar o Jardim ou aprender mais alguma coisa sobre Botânica, aposto! Fiquem à vontade, por favor, Professora...

Aliviada pelo susto, sorrindo, ela aperta a mão do Professor e diz:

- Ambas as coisas. Meu nome é Diana; estes são meus alunos, conforme telefonei. Gente, vamos cumprimentar o Professor Felício Esma...

- ... ragdo Valverde, Dona Diana, meu nome completo.

- Bom dia, Professor! – gritam em coro, com as mãos na boca, despistando uma risada pela novidade inesperada da situação.

- Bem vindos ao Jardim das Plantas.

Ana Laura, já descontraída, quer saber:

- Professor, ouvimos um papagaio tagarela por aí. Podemos ver o bichinho? Se é mesmo papagaio...

- Papagaio, aqui! Não é possível, Professora. Mas, pode ser! No Brasil, toda reserva florestal, por menor que seja, deve ter papagaio, que também simboliza esta terra.

A resposta do Diretor deixa o grupo encafifado. Entreolham-se, tentando entender a situação.

A Professora intercede:

- Vamos esquecer por enquanto essa história de papagaio. Estamos aqui para conhecer a árvore que deu nome ao nosso País. E para o Professor: - Sabemos que o senhor é botânico, ambientalista e especialista no assunto...

Felício percebe a inquietação geral e tenta acalmar o clima:

- Meu trabalho é uma obrigação e um prazer, aqui entre a Natureza. Muito bem, Garotada! Será que existe mesmo um papagaio aqui? Eu bem que desconfiava! Ouvi também voz de papagaio chamar meu nome por aí, mas ando tão entretido lendo um livro sobre vegetação brasileira que até nem prestei muita atenção... Bem, se existe um papagaio mesmo aí fora, vai ter que aparecer. Quem é vivo sempre aparece, diz o ditado. Aliás, este ambiente não pode ser melhor para um papagaio morar. Vai ver, fugiu dalgum cativeiro. O Jardim ainda não tem papagaio, a ave-símbolo do Brasil. Estamos providenciando um casal para povoar este pedaço... E também outras aves nacionais. Canários e sabiás já temos. Virão também jandaias e uns periquitos, o nosso pequeno e simpático tuim. Numa próxima visita, Vocês verão psitacídeos por todos os lados. Nosso pequeno paraíso vai ficar ainda mais bonito.

Maria Vitória, ainda um tanto confusa, insiste:

- Então pode existir mesmo um papagaio solto aqui?

Sem garantir nem que sim, nem que não, o Professor dá uma boa risada, que, para os alunos, soa com uma confissão. Felizes, se cutucam, com risinhos de satisfação curiosa.

- Muito bem, vamos deixar esse papagaio falador para o final da história. Até lá, já mostrou a cara, quero dizer, o bico. Qual é mesmo o nome da árvore que vieram conhecer?

- Pau-Brasil! - gritam os alunos na maior euforia.

O Diretor ajeita a calça jeans, sempre escorregando para baixo da barriga avantajada. Vira o rosto em direção ao fundo do Jardim, arregaça as mangas da camisa e aponta na direção de uma árvore mais distante, alta e frondosa:

- Aquela bonita e cheia de espinhos é o nosso Pau-Brasil.

Os alunos levantam os olhos em direção da árvore, que se distinguia entre outras.

- Olhem: logo ali, eu vi primeiro – grita a Professora cheia de admiração, mordendo a ponta da caneta.

O Diretor, muito extrovertido, salta para o pátio. Os meninos, agitados, nem esperam pela Professora e descem atrás do Professor Felício, correndo, no rumo de uma estradinha de terra batida, toda riscada pelas rodas das carrocinhas dos zeladores até o pé da grande árvore.

Ainda na varanda, Dona Diana acompanha a felicidade dos alunos, também alegre e emocionada, aspirando o cheiro bom de mato. E elogia:

- Isto é um paraíso, Professor! E bem no perímetro urbano!

- Ou o que resta dele, nesta selva de concreto armado!

Os dois adultos descem ao encontro dos colegiais bem mais na frente, e já com estripulias em volta do tronco majestoso da árvore-símbolo do Brasil, apalpando com cuidado a casca áspera, apanhando folhas caídas para jogar uns nos outros, como se lançam confetes em bailes de Carnaval. Outros abrem os braços e rodopiam feito avião, em torno da planta.

Conheciam um típico exemplar de um Pau-Brasil: frondoso, bem copado, cheio de folhas miúdas e de casca espinhenta; mais grosso do que um poste de luz e mais de dez metros de altura.

O Professor pede atenção:

- Meninos e Meninas, hoje é o Dia da Árvore?

- Não! - respondem uns.

- Dia 5 de junho é o do Meio Ambiente. E o da árvore, qual é mesmo? – insiste.

- 21 de setembro – afirmam, em coro.

A Professora participa:

- Todo dia é dia de árvore, não é, Pessoal?

E depois de uma nova admirada na árvore em frente:

- Que tal agora todos assentados nesses banquinhos em volta do Pau-Brasil? O Professor vai contar uma história interessante. Eu estou morrendo de curiosidade...

- Muito bem. Qual de vocês já tinha visto um pé de Pau-Brasil, assim tão de perto?

Rodrigo levanta um braço:

- Eu só conhecia de fotografia! Assim é muito mais bonito.

Felipe, que tinha estado calado, levanta também um braço:

- Só conhecia de gravura, de um livro de meu pai. Ao vivo, é a primeira vez. Legal!

- Eu também!

- Eu também!

- Eu também!

- Pela importância dessa árvore, meus jovens, ela deve ser plantada nas ruas, praças e jardins das cidades brasileiras.

- É só querer, não é, Professor Felício? – ajuda um no meio do grupo.

- Ainda tem muito Pau-brasil em nossas matas? - pergunta, outra vez o Daniel.

Sorridente, o Professor apalpa o tronco da árvore e começa a história prometida:

- Está praticamente extinto, e isso tem uma explicação. Desde o descobrimento do Brasil, europeus ambiciosos, doidos para enriquecer, viram na extração dessa madeira um meio de conseguir, rápido e fácil, grandes fortunas.

- E ganharam muita grana? – quis logo saber o Beto, faiscando os olhos.

- Quem já era rico, mais rico ficou. Naquele tempo, cortaram Pau-Brasil por toda extensão das terras que iam de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, ao Cabo de São Roque, em Pernambuco; um arraso! Coloriam a Europa de vermelho com a preciosa árvore. O Governo Brasileiro, hoje, está preocupado em incentivar o replantio de nossa árvore-símbolo. Já é um bom princípio, não acham?

Todos concordam, os braços levantados. A Professora Diana repete os gestos dos meninos.

 

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